No último fim de semana, nosso desbocado presidente, perguntado por um repórter sobre os depósitos na conta da primeira-dama que totalizaram 89 mil reais, respondeu com um “minha vontade é encher tua boca de porrada”. Não vou entrar aqui na questão já muito debatida do total despreparo e destempero de Bolsonaro ao lidar com a imprensa livre e sua notória postura antirrepublicana e antidemocrática de não prestar contas de seus atos ou dos de seus familiares e amigos.
O que quero comentar é o termo usado por ele para ameaçar o jornalista: porrada. Essa palavra, assim como porrete e porretada, deriva de porra, termo de origem espanhola que primitivamente designa uma clava constituída de um pau curto com cabeça de metal e que hoje é mais conhecida por seu uso chulo com o significado de “esperma, sêmen”.
Em português, porra aparece pela primeira vez em 1136 significando exatamente “porrete”. Segundo o dicionário etimológico Corominas da língua castelhana, deve ter provindo do latim porrum ou porrus, literalmente “alho-porro” (no Brasil também chamado de alho-poró), por analogia entre o bastão de cabo grosso e a hortaliça de talo longo e bulbo largo em uma das extremidades. Tanto assim que, no próprio latim, porrum ou porrus, além do vegetal, também denominava uma espécie de palmatória usada para castigar crianças e escravos.
Portanto, porrada é originalmente o golpe dado com a porra, isto é, o porrete, e que hoje é mais comumente desferido com o punho cerrado (o golpe com o instrumento é normalmente referido como porretada).
Mas, e o sentido de “esperma”, de onde teria vindo? Minha tese é de que houve aí uma metonímia do tipo continente pelo conteúdo. O vocábulo porra teria sido empregado inicialmente para nomear metafórica e eufemisticamente o órgão sexual masculino, dada a semelhança física entre ambos. Daí surge por derivação parassintética o verbo esporrar, formado do prefixo es- (do latim ex-), que quer dizer “para fora” e do radical de porra. Significando, portanto, pôr para fora do pênis. E é aí que entra a metonímia: esporrar passa a ser entendido como “expelir porra”, ou seja, o termo deixa de denominar o órgão sexual e passa a nomear seu conteúdo, o sêmen.
De esporrar sai o derivado regressivo esporro, com o sentido primeiro de “barulho, escândalo, gritaria de quem está zangado” e, a seguir, o de “bronca que se dá a alguém de forma gritada”. Ou seja, ao dizer que ia encher a boca do repórter de porrada, o presidente acabou limitando-se a dar-lhe um esporro.
Lembrei-me de uns poemas atribuídos a Bocage e agrupados como obra “marginal” dele: “Ribeirada”, “À Manteigui” e outros.
Neles é bastante frequente o termo “porra” na acepção de “pênis”, além de outros termos sinônimos.
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De fato, Júlio, o uso de palavras designativas de “bastão, pau, porrete” para referir-se ao pênis é comum em muitas línguas.
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Texto porreta!
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Nesse texto eu matei a pau! kkk
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