Inflação, carestia, preços altos… Mas de onde vêm as palavras “caro”, “preço” e “inflação”?

Hoje em dia, tudo está muito caro, efeito nefasto da inflação, que corrói nossa renda e afeta sobretudo os mais pobres. Mas qual a origem da palavra caro? Em latim, carus, de onde veio a palavra portuguesa, significava em primeiro lugar “querido, amado”. É daí que vêm os nossos “caro(a) amigo(a)” e “meu/minha caro(a)”, com que nos dirigimos a pessoas queridas. Daí também vêm caridade, carícia e acariciar, estes dois últimos por via do italiano. O termo latino se originou de uma raiz indo-europeia *kā‑, que significava “gostar, amar, desejar”. Ela está presente, por exemplo, no sânscrito kama, “amor”, que aparece no título do Kama Sutra, literalmente “Livro do Amor” (sutra, “livro” em sânscrito, é da mesma raiz de sutura, pois os livros eram feitos de folhas de pergaminho costuradas umas às outras).

Mas, como aquilo ou aqueles que amamos têm alto valor para nós, o latim carus também passou a significar “de alto valor ou preço”, como os gêneros de primeira necessidade atualmente no Brasil. Assim, caro hoje se refere não só ao valor moral ou afetivo que damos às coisas e pessoas como também ao custo monetário delas (das coisas, não das pessoas — se bem que há pessoas que também nos custam caro).

E se caro tem a ver com “valor, preço”, é por isso que temos apreço pelo que nos é caro, isto é, precioso. Em latim, pretium era o preço que se pagava por algo. Assim, pretiosus era “precioso” não só no sentido de “valioso”, mas também no de “dispendioso”. Hoje diríamos que o arroz e o feijão são muito preciosos, né? Consequentemente, appretiare, não era “apreciar”, mas “apreçar, avaliar, estabelecer o preço”. Mais uma vez, como tudo que tem valor tem alto preço (pelo menos entre os bens materiais), passou-se a usar os termos relativos a preço com sentido moral: apreciar uma comida, ter uma amizade preciosa, ter apreço por alguém, e assim por diante.

Mas começamos falando de inflação. Essa palavra, do latim inflatio, deriva de inflare, “inflar, inchar”, formado do prefixo in‑, “dentro”, e do verbo flare, “soprar”, que também ocorre em sufflare, que deu em português soprar e insuflar, e em afflare, “exalar”, que deu o nosso achar. Inflare significa “soprar dentro”, como se faz ao encher de ar uma bexiga de borracha soprando dentro dela.

Em resumo, inflação é um inchaço, no caso, dos preços. Trata-se de um termo cunhado pelos economistas. Mas também existe a inflação cósmica, expressão proposta pelo astrofísico e cosmólogo americano Alan Guth para denominar uma expansão exponencial que o Universo teria sofrido nos primeiros tempos de sua existência.

Tenho muito apreço por assuntos como cosmologia, mas a inflação dos preços não me é nada cara.

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