Prezado prof. Aldo, meus parabéns por seus artigos primorosos e esclarecedores! Sempre aprendo coisas novas com você, continue assim! Mas a razão do meu contato é uma dúvida: de uns tempos para cá vem se tornando cada vez mais frequente o emprego da palavra “codinome”. O próprio presidente Bolsonaro usou codinomes para fazer os primeiros exames de covid-19. Não sou tão velho assim, mas lembro que mais antigamente se dizia “nome-código”. Gostaria de saber de onde veio essa palavra. É correto usá-la? Ou é mais um desses americanismos idiotas? Desde já obrigado e mais uma vez parabéns. Marcelo Henrique Avelino
Caro Marcelo, a palavra “codinome” é de introdução relativamente recente e é um decalque do inglês code name, literalmente “nome em código”, ou “nome-código”, como você mencionou. A rigor, esta última forma é a mais condizente com a morfologia do português, mas, como acontece o tempo todo, as formas mais aderentes ao vernáculo não são necessariamente as que ganham a preferência popular. Talvez por ser mais sintético (ou por ser mais próximo da matriz inglesa), “codinome” acabou, de fato, suplantando “nome-código”.
O que os falantes do português fizeram foi converter name em “nome” e, em lugar de substituir pura e simplesmente code por “código”, adotaram a forma truncada (“codi-”) dessa palavra – aquilo que chamamos tecnicamente de fractomorfema. Com isso, o que era uma locução nominal em inglês tornou-se um substantivo composto em português.
Assim como você, muitas pessoas podem não gostar dessa palavra, resultado de uma composição truncada, e considerá-la realmente um barbarismo. No entanto, é preciso lembrar que composições mediante truncação de um dos elementos não são incomuns em nosso idioma. Basta ver a palavra “fidalgo” que já foi “filho de algo”. Quanto à inegável influência da língua inglesa sobre a nossa, podemos gostar ou não, mas não há como negá-la. Se “codinome” é um anglicismo disfarçado, o fato é que o português – e a maioria das línguas hoje em dia – está repleto desses anglicismos, para muitos dos quais não temos equivalente vernáculo.
Em resumo, você pode empregar indiferentemente “codinome” ou “nome-código”, pois ambos estão de acordo com o padrão linguístico – tudo é uma questão de estilo. Essa é uma das dádivas da língua: podermos escolher nossa forma de expressão e com isso firmar nossas posições e afirmar nossa identidade.
Dessa vez fiquei bastante surpreso, nunca tinha ouvido falar ou ler “nome-código”. Sempre ouvi e li “codinome”.
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Nem todo estrangeirismo deve, por essa condição, ser rejeitado. “Codinome”, além de traduzir a mesma ideia, soa melhor do que “nome-código”.
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Uma cruel dúvida…
Gostaria de saber como chegaram a “fidalgo” = filho de algo.
Não seria mais natural, que fosse filho de alguém, para não coisificar?
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Em português medieval, “algo” significava “riqueza”, portanto “filho de algo” = “filho da riqueza”.
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