O grego moderno é bem diferente do antigo, mas muitas palavras continuam as mesmas. Por isso, é comum reconhecermos em manchetes de jornais gregos (isto é, supondo que saibamos transliterar do alfabeto helênico para o nosso, latino) palavras que já conhecemos. O problema é que essas palavras em geral têm significado diferente daquele a que estamos habituados. Por exemplo, Demokratía Hellás, que é o nome oficial do Estado grego, não significa “Democracia Grega”, mas “República Grega”. Em frente ao Parlamento, em Atenas, há uma praça que ficou famosa pelas manifestações contra o pacote de ajuste fiscal imposto pela União Europeia para salvar a Grécia da falência em 2015. É a Praça Sýntagma, ou Praça da Constituição. Só que para nós sintagma é uma figura de gramática. Aliás, a metáfora, outra figura presente em nossas gramáticas, aparece com frequência em caminhões-baú na Grécia. É que metaphorá quer dizer mudança.
Voltando a falar naquela crise financeira grega, quando o FMI e a União Europeia aprovaram o empréstimo bilionário ao governo grego, os partidos políticos tiveram de selar um acordo para a aprovação de duras medidas de austeridade. No dia seguinte, os jornais gregos estamparam a manchete “Acordo!”, que em grego é Symphonía!.
Boa noite, prof. Aldo! Symphonía quer dizer “acordo” porque é preciso “arranjo, harmonia” para se chegar a um “acordo”? Pensei numa orquestra sinfônica que, para executar bem uma melodia ou realizar um concerto, precisa da harmonia entre os músicos.
Na verdade, Patrick, “symphonía” quer dizer consonância, isto é, todas as vozes soando juntas. Portanto, uma sinfonia é uma concordância de vozes, tal como num acordo.
E também de todos os instrumentos musicais, é claro.
Obrigado.
Eu me lembro de ter transliterado, ali bem perto da Syntagma, um letreiro que dizia “Banco Étnico”. Era o Banco Nacional.
Achava muito curioso nesse período o ministro grego que anunciava os rigorosos ajustes fiscais: Evangelos.
E o mais engraçado é que Evangelos quer dizer “bom mensageiro” ou “mensageiro de boas notícias”. O que não era o caso, né?