Hoje vou responder a um e-mail do leitor Jackson Bezerra de Albuquerque, que diz:
Prezado Aldo, admiro muito o seu trabalho e grande conhecimento sobre línguas, mas a razão da minha consulta é uma curiosidade etimológica que você, como especialista no assunto, certamente poderá me esclarecer. É verdade que “pouso” tem a ver com “pausa”? E se tem, qual é a relação? Muito obrigado.
Prezado Jackson, você tem toda a razão: pausa e pouso têm tudo a ver. Em latim, a palavra pausa queria dizer o mesmo que em português: parada, cessação, interrupção de uma atividade. No entanto, se pausa e pausar nos chegaram por via culta, temos o verbo pousar e seu derivado regressivo pouso, da mesma origem, só que desta vez recebidos por herança.
Mas o que há de comum entre pausar e pousar? Se a pausa é a interrupção de uma atividade, então, dizer que uma ave pousou equivale a dizer que ela fez uma pausa, interrompeu o voo. E como as aves precisam pousar para descansar, o pouso é também o momento de descanso, ou de repouso. Nem é preciso dizer que esta última palavra também se originou de pausa, porém trata-se agora de uma pausa mais longa, para repor as energias. Daí o prefixo reforçativo re‑.
Ou seja, a pausa em qualquer atividade pode ser associada a um “repouso”, mesmo que em sentido metafórico. Por isso, dizemos que um equipamento que não está sendo usado está em repouso (ou em stand by, isto é, de prontidão). Ora, o pouso, seja de um pássaro, avião, astronave, etc., é a entrada em estado de repouso, de inatividade, a cessação do voo.
De modo mais geral, toda interrupção é uma pausa. Assim, apertamos a tecla pause dos aparelhos de CD ou DVD para suspender a execução de uma música ou filme, e também fazemos pausas no nosso trabalho, seja a pausa para o almoço, o cafezinho, o descanso semanal ou as férias.
Uma última curiosidade: em francês, o verbo poser, proveniente da mesma fonte latina, significa “pôr, colocar”, isto é, “pousar” (sobre uma mesa, por exemplo). E pose, a atitude de quem fica imóvel durante uma foto ou retrato, não deixa de ser um estado de pausa, de inatividade.
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Gostei demais.
Que bom, Patrick!