Fazer uma vaquinha

Eis que eu recebo e-mail de uma plataforma especializada em fazer vaquinhas virtuais, isto é, em arrecadar fundos por meio da internet para ajudar causas como, por exemplo, o acolhimento de animais abandonados, o qual traz uma explicação para o surgimento da expressão “fazer uma vaquinha” que compartilho com vocês com a ressalva de que não sei ao certo se está correta ou não. Portanto, leiam a explicação como algo possível e verossímil, mas não necessariamente verdadeiro.

Diz o e-mail:

A expressão “fazer uma vaquinha” começa a ser difundida no ano de 1920 graças ao futebol!
Naquela época, os jogadores não ganhavam salários nem próximos dos que são pagos hoje em dia. Na verdade, muitos nem ganhavam salários.
Então, a torcida costumava se reunir e juntar uma graninha pra ajudar os jogadores, assim eles se sentiriam mais motivados nas partidas, pois o valor variava de acordo com o desempenho na partida jogada.
Os valores eram nomeados de acordo com o jogo do bicho (que só foi definitivamente proibido nos anos 1940). Ou seja, 5 mil réis era “um cachorro”, 10 mil réis era “um coelho” e o prêmio máximo era de 25 mil réis, ou “uma vaca”.
A partir daí, o termo “fazer uma vaquinha” se difundiu pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil.

Como dizem os italianos, se non è vero, è bene trovato.

7 comentários sobre “Fazer uma vaquinha

  1. Caro Aldo,

    “Fazer uma vaquinha” aparece numa edição de 1928 de “Sempre Fixe”, um seminário humorístico português editado por Pedro Bordallo:

    “A esposa fez uma vaquinha e joga, perdendo desenfreadamente”.

    A expressão aparece associada a jogo, mas, pelo trecho disponível pelo Google Livros, não fica claro se o autor fez referência ao jogo do bicho brasileiro. Não seria impossível, pois o jogo é de 1895, do Rio, cidade com maior concentração de imigrantes portugueses, mas o trecho disponível, embora curto, sugere que não tem relação com o jogo do bicho especificamente.

    Mas não encontrei mais nada. No Corpus do Português do Mark Davies (não tenho acesso a outros), todos os registros são brasileiros.

    Um abraço,
    Rodrigo.

  2. Encontrei também uma resposta de uma portuguesa a um pedido de ajuda para tradução de carpool em que, lá pelas tantas, ela escreveu o seguinte:

    “Vaquinha é uma expressão portuguesa, para designar divisão de alguma coisa, seja uma boleia ou numa refeição mandar vir um prato para dividir, por exemplo nos Restaurantes Chineses faz-se muito isso. 4 ou 5 pessoas mandam vir 4 diferentes pratos e fazem uma ‘vaquinha’. Os colegas Portugueses sabem do que falo.”

    Ela falou como se se tratasse de uso disseminado, mas não me parece, pelos poucos resultados que se encontraram para o termo em páginas portuguesas. Parece mais brasileirismo que sofreu ampliação semântica, de divisão do custo de alguma coisa por várias pessoas para a divisão de alguma coisa entre várias pessoas.

    Mas, pela postura arrogante da pessoa, que corrigiu uma brasileira por ter escrito “combinar de + infinitivo” (“não é português correcto”), acho que ela não usaria conscientemente um brasileirismo. Parece ter a expressão como legitimamente portuguesa.

    1. É por essa e por outras que eu fiz a ressalva de que a fonte não é cem por cento segura. Aliás, as etimologias mais procuradas pelo público em geral são as de expressões e não as de palavras, só que determinar a origem de uma expressão é dificílimo, pois elas nascem na oralidade e só são registradas na escrita muito tempo depois, quando o contexto original de criação já se perdeu.

  3. Encontrei o seguinte no verbete “Vaquinha”, do livro “De onde vêm as palavras”, do prof. Deonísio da Silva: “[. . .] A expressão “fazer uma vaquinha” tem a ver com o futebol e com o jogo do bicho. Até 1920, os torcedores pagavam os jogadores com arrecadações voluntárias. Se conseguissem apenas cinco mil réis, o bicho era o cachorro, quantia arrecadada por poucos ou oferecida por um doador apenas. Para arrecadar 25 mil réis, correspondente ao grupo da vaca, era necessária a participação de muitos. Era, então, necessário “fazer uma vaca”, no sentido de completar maior quantia. E virou “fazer uma vaquinha” , pelo costume brasileiro de privilegiar o diminutivo. Um dos primeiros clubes a adotar o costume foi o Vasco da Gama. Por influência do futebol, a expressão passou a outros campos e “fazer uma vaquinha” veio a designar não apenas a ação de angariar recursos para pagar os jogadores, mas financiar qualquer outra coisa que requeresse a participação de várias pessoas.” Eu tenho o livro e desejei compartilhar. Não mudei nada, reproduzi “ipsis litteris”.

  4. Aqui onde moro, no Pará, a locução “fazer uma vaquinha” é menos usada do que o equivalente local “fazer uma coleta”.
    Aliás, tenho a impressão de que “fazer uma vaquinha” é sentida pelos paraenses (pelo menos aqui em Santarém) como vinda “de fora”.

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