A evolução do computês

No mundo da informática, tudo muda muito depressa – inclusive os nomes das coisas. A começar pela própria informática, palavra-valise formada pelo truncamento e justaposição de informação e automática, termo que os computólogos detestam, contrapondo-lhe o mais acadêmico computação. Aliás, computólogo é gíria, o certo mesmo é cientista da computação.

No entanto, até os anos 1970 o termo que designava essa tecnologia era cibernética, que hoje sobrevive apenas no prefixoide ciber (às vezes, cyber) de ciberespaço, cybercafé, etc. Naquela década, havia uma série famosa de TV chamada Cyborg, amálgama de cybernetic organism, misto de organismo biológico e máquina, que acabou aportuguesado para ciborgue. O herói da série era um militar que tivera partes de seu corpo substituídas por próteses de altíssima tecnologia, o que lhe garantia superpoderes, dentre os quais o olho biônico, que enxergava a longa distância. Como o órgão biônico era uma parte artificial do corpo, ganharam o apelido de “biônicos” também os senadores nomeados pelo Poder Executivo (portanto, não eleitos por voto direto) para garantir que o partido do governo militar tivesse maioria no Senado. É por essa razão, aliás, que até hoje cada estado brasileiro tem três senadores em vez de dois, como era originalmente.

Nessa mesma época, o computador era chamado de cérebro eletrônico. Há até uma canção de Gilberto Gil homenageando a então oitava maravilha do mundo moderno: “O cérebro eletrônico faz tudo / Faz quase tudo / Faz quase tudo / Mas ele é mudo / O cérebro eletrônico comanda / Manda e desmanda / Ele é quem manda / Mas ele não anda” (Gilberto Gil, Cérebro Eletrônico). Os computadores que inspiraram o poeta baiano eram monstrengos que ocupavam uma sala inteira e processavam dados por meio de fitas magnéticas; o input de dados era feito com cartões de papel perfurados. Aliás, é dessa época também a designação processamento de dados como sinônimo de computação. (Hoje se diz tecnologia da informação ou simplesmente TI.)

Quem ainda se lembra de que na década de 1990 o HD (ou disco rígido) dos microcomputadores era conhecido por winchester, alusão à famosa espingarda dos tempos do velho Oeste? E que os saudosos disquetes eram chamados de bolachas ou de floppy disks? E que um computador de mesa era um desktop (geralmente do modelo minitorre)?

Os computadores pessoais, fossem eles desktops ou laptops (também chamados de notebooks), eram conhecidos como micros, e havia quem ‘micrasse’ (isto é, digitasse) um texto. Nada estranho, afinal muitos ‘printavam’ (imprimiam) documentos e ‘inputavam’ dados! Isso mesmo, inputavam com n, do inglês input, pois imputar com m é termo jurídico. E quando se ‘inputava’ algo no micro, este ‘outputava’ (de output) um resultado. Exceto quando travava, situação em que era preciso dar um boot, ou simplesmente ‘rebootar’ a máquina.

Bons tempos!

2 comentários sobre “A evolução do computês

  1. Olá, Aldo! Na instituição em que trabalho, a sala onde ficam os computadores dos alunos se chama “micródromo”. De início, estranhei, visto que “micro” serve pra muita coisa.

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