A resposta à pergunta do título é evidentemente subjetiva, na medida em que beleza é, em grande parte, questão de opinião. Mas, assim como existe um padrão de beleza para pessoas – ditado, em certa medida, pela moda e pela publicidade, mas que a ciência revela ter uma base biológica –, é perfeitamente possível falar na beleza ou feiura das línguas.
Segundo a sociolinguista Dr.ª Vineeta Chand, da Universidade de Essex, Reino Unido, “não houve nenhuma pesquisa que tenha explorado diretamente a atratividade de uma língua e eventualmente relacionado isso à avaliação social da comunidade falante”.
No entanto, é comum ouvirmos comentários de que o italiano é romântico, o francês é a língua mais linda do mundo, o alemão é áspero, de que os falantes de certas línguas parecem ter uma batata quente dentro da boca, e assim por diante. Por mais que essas impressões possam estar contaminadas pela própria simpatia ou antipatia que sentimos pelos povos que falam tais línguas, não deixa de ser curioso que haja uma certa convergência de opiniões em torno de certos idiomas.
Em primeiro lugar, a maioria das avaliações estéticas diz respeito apenas à sonoridade da língua, sem considerar outros aspectos, como vocabulário, gramática ou grafia. É evidente que a maior ou menor dificuldade em aprender um idioma estrangeiro também pode afetar nossa propensão a gostar ou não dele, o que permite ampliar os critérios de avaliação de uma língua para além do aspecto puramente fonético.
Nesse sentido, podemos arriscar alguns critérios de julgamento estético das línguas.
Foneticamente, línguas com predominância de vogais, inclusive nasais, e poucos encontros consonantais, como as românicas, seriam mais belas do que línguas predominantemente consonantais, como o alemão ou as línguas eslavas. Isso se deve ao próprio fenômeno acústico-articulatório de que vogais são sons harmônicos e consoantes são ruídos.
Além disso, a entonação e a velocidade da fala também influem: línguas tonais como o sueco e o mandarim costumam soar estranho a ouvidos não familiarizados; falantes com ritmo muito rápido, como os espanhóis e os japoneses, soam agressivos, ao passo que a fala lenta e compassada transmite calma, credibilidade e até mesmo sensualidade.
Gramaticalmente, um idioma será tão mais belo quanto mais simples, lógico e regular ele for. Portanto, línguas com muitas regras e um sem-número de exceções são “feias”.
Por fim, a ortografia de uma língua pode ser feia ou bonita (evidentemente, estou pensando em línguas que utilizam o alfabeto latino). Uma língua como o holandês, em que a maioria das palavras aparece com vogais dobradas (telefoon, telegraaf, instituut, etc.), deve parecer esquisita aos falantes das demais línguas europeias. Sistemas ortográficos com muitos caracteres especiais, sinais diacríticos, clusters consonantais, etc., como o islandês, o turco, o vietnamita, acabam tendo uma escrita “suja”, carregada, e deixam a leitura pesada, além do evidente transtorno que causam à digitação.
Segundo esses critérios, o italiano seria de fato uma língua bela, já que é extremamente vocálica, sua fala é pausada (e em algumas regiões ligeiramente cantada), sua gramática é das mais simples dentre as línguas neolatinas e sua grafia, além de fonética (escreve-se como se fala), é despojada, sem caracteres especiais e com uso mínimo de acentos.
Na outra ponta, o polonês seria uma língua feia, já que foneticamente é bem consonantal, gramaticalmente é supercomplexa e tem uma grafia “pesadona”, com muitos “y” no lugar de “i”, “w” no lugar de “v” (por exemplo, “universidade” é uniwersytet) e inúmeros clusters como szcz.
Mas, e o português, onde fica nessa classificação? Foneticamente, costuma ser considerado uma língua bonita (há quem diga que o português brasileiro é sexy), mas gramatical e ortograficamente seria, segundo os nossos critérios, uma língua feia, já que é complexa e pouco racional.
Diz um conhecido ditado: “A beleza está nos olhos de quem vê.” Neste caso, poderíamos dizer que a beleza está nos ouvidos de quem escuta 🙂
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Saudações Aldo e demais pessoas que leram o assunto. de fato, o português tem muitas regras e várias exceções que estragam a beleza fonética. Eu gosto da fonética, mas pra mim, cada letra deveria ter um único som e se tivesse dois sons, deveria ter regra sem exceção, como é o caso do s entre vogais que tem som de z. O x seria bom se fosse apenas o som de x. O Inglês foneticamente é feio, é horroroso, mas a regra gramatical é muito mais simples. Pra mim, o Espanhol é o mais bonito de todos, depois gosto do Japonês, que a escrita considero complicada, mas a fonética é bonita e as regras gramaticais são mais simples que o Inglês, como por exemplo, os verbos, que são iguais pra todos os pronomes. o Francês realmente é muito bonito e poderia voltar a ser a língua franca que era antes. Muito grato por este texto
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