Posta assim, a pergunta do título parece ter resposta óbvia: se um canavial é uma plantação de cana (em geral de açúcar), então a palavra “canavial”, assim como suas cognatas “canavieira” (planta gramínea) e “canavieiro” (relativo a cana, que cultiva cana), deriva de “cana”, certo? Errado.
Senão, como explicar o surgimento desse elemento ‑avi‑ entre o radical can‑ e o sufixo formador de coletivos ‑al? Algum desavisado poderia sugerir que se trata de um elemento de ligação (tecnicamente, um interfixo) a engatar o radical e o sufixo uma vez que a simples justaposição de amos daria “canal”, que evidentemente significa outra coisa. Mas, na verdade, a história é outra.
“Canavial” era originalmente uma plantação de cânave, ou cânhamo, erva fibrosa de origem asiática cuja denominação científica é Cannabis ruderalis. Portanto, parente da Cannabis sativa, mais conhecida como maconha.
Cânhamo Cana da índia Cana de açúcar Maconha
O nome dessa planta se origina do grego kannábis, que nos chegou via latim cannabis (proparoxítono, que deu “cânave” em português) e cannabus, que resultou no espanhol cáñamo, étimo de “cânhamo” em nosso idioma.
Em resumo, um canavial era uma plantação de cânhamo, vegetal muito utilizado na fabricação de papel. A lavoura de cana passou a ser chamada de canavial muito mais por associação fonética do que por ligação etimológica, que, aliás, não existe, já que “cana” provém do latim canna e não de cannabis.
Por sinal, a própria denominação “cana” engloba espécies muito diferentes de plantas, desde a cana da índia, da família das canáceas (ou Cannaceae), até a cana do reino (Arundo donax) e a cana de açúcar (Saccharum officinarum).
Gênio de explicação!!! À respeito de linguagem e comunicação, Aldo, você já assistiu “Arrival”? Estou interessada em sua opinião… o filme é intrigante e belo.
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Obrigado pelo elogio, Cecilia! Não, ainda não assisti a esse filme.
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