Acabo de ler Conversa sobre a fé e a ciência, da Editora Agir, que é a transcrição de uma conversa entre o monge dominicano e escritor mineiro Frei Betto e o físico carioca radicado nos Estados Unidos Marcelo Gleiser, com a mediação do músico e astrólogo Waldemar Falcão. Esse livro segue a esteira de um sucesso anterior da mesma editora, Conversa sobre o tempo, com Luís Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura, mediados por Arthur Dapieve. Só que desta vez, por se tratar de um tema tão polêmico, o mínimo que eu esperava era um embate acalorado entre duas visões de mundo antagônicas e irreconciliáveis. Que nada! A conversa transcorre morna, com Frei Betto falando quase o tempo todo, seguido de perto pelo mediador, enquanto Marcelo Gleiser, nas poucas vezes em que tomou a palavra, não fez outra coisa senão concordar com os interlocutores. Nenhuma informação importante, nada de relevante foi dito nesse livro, e, mesmo em momentos em que o diálogo poderia “esquentar”, a pasmaceira prevalecia.
A sensação que me ficou ao final da leitura foi a de ter assistido a um jogo de futebol em que ambos os times combinaram jogar na retranca, para que nenhum dos dois marcasse ou sofresse gols. Ambos ficaram trocando passes no meio de campo, sem nenhuma jogada de maior poder ofensivo, sem nenhuma defesa brilhante, nenhum chute a gol.
Segundo a minha teoria das funções da cultura (quem quiser saber mais, é só conferir o meu livro Anatomia da cultura, Editora Palas Athena), um livro como esse tem algum conteúdo epistêmico – isto é, de transmissão de informações que não são necessariamente úteis, mas são agradáveis –, mas sobretudo tem uma função lúdica, de entreter pela apresentação de uma disputa ou narrativa cujo final o leitor desconhece e, por isso mesmo, anseia prazerosamente descobrir. Ou seja, um livro desse tipo deveria produzir o mesmo efeito prazeroso de um romance policial ou de uma partida de futebol. Só que, neste caso, a partida terminou zero a zero, com dois times desmotivados e uma plateia de torcedores vaiando. Tudo bem, continuo à espera de um livro que traga, quem sabe, uma conversa sobre ciência é fé protagonizada pelo biólogo britânico Richard Dawkins e pelo teólogo Joseph Ratzinger, o ex-papa Bento XVI. Aí sim, será um jogão!
Aldo, assista aos debates de William Lane Craig com qualquer ateu famoso (Sam Harris, ChristopherHitchens, Lawrence Krauss…). Abs!