Imbrochável ou imbroxável?

O coro de apoiadores de Bolsonaro que, no último Sete de Setembro, entoou o grito “imbroxável, imbroxável” suscitou, além de perplexidade em muitas pessoas, algumas dúvidas linguísticas. Primeira: essa palavra existe? Segunda: qual a sua origem? Terceira: a grafia correta é imbrochável ou imbroxável?

Primeiramente, é preciso dizer que, ao contrário do que afirmam muitos gramáticos, uma palavra existe na língua a partir do momento em que é criada e passa a ser usada socialmente. Essa nova palavra, que ainda não consta nos dicionários, é chamada de neologismo. Nesse sentido, pode-se dizer que Bolsonaro e os bolsonaristas criaram um neologismo. Se ele sobreviverá a ponto de ser dicionarizado ou se desaparecerá após algum tempo como moda passageira, só a história dirá. Muitos neologismos são assim criados como termos da moda (vide as gírias dos jovens) e, meses depois, caem em desuso. É a lei da seleção natural agindo sobre as palavras como age sobre os seres vivos. Algumas sobrevivem e até deixam descendentes (palavras derivadas, por exemplo), outras morrem e por vezes nem deixam vestígio.

Quanto à origem da palavra imbroxável, é um derivado parassintético do verbo broxar (parassíntese é um processo de derivação que consiste em prefixar e sufixar a palavra primitiva ao mesmo tempo). Trata-se de um termo um tanto chulo para designar a perda da ereção do pênis durante a relação sexual. Logo, imbroxável é o indivíduo que supostamente (apenas supostamente) nunca broxa.

E broxar, de onde vem? Vem de broxa. E broxa, todos sabem, é aquele pincel graúdo que os pintores usam para pintar paredes, especialmente com tinta à base de cal. A relação entre a broxa de pintura e a disfunção erétil é bem sugestiva: quando o pintor mergulha a broxa na tinta e depois a retira da respectiva lata, os pelos do pincel arqueiam todos para baixo sob o peso da tinta impregnada neles.

Como o leitor deve ter percebido, até o momento utilizei broxa, broxar e imbroxável com x, mas também existe em português a brocha com ch, só que com outro significado. Brocha é um tipo de prego, ao passo que o pincel se grafa broxa. Essa é mais uma das pegadinhas do nosso idioma que podem representar uma casca de banana no caminho de vestibulandos e concurseiros. Brocha e broxa são denominadas palavras homófonas, isto é, que têm a mesma pronúncia, mas grafias diferentes.

Portanto, se imbroxável deriva de broxar, e este de broxa, a grafia correta do primeiro é com x e não com ch, como tem saído na imprensa.

17 comentários sobre “Imbrochável ou imbroxável?

    1. Eu até gostei da iniciativa do post, mas foi claramente enviesado, isto é, foi escrito muito mais com o sentido emocional subjetivo do autor, do que o compartilhar do conhecimento. Pois o autor usou apenas a definição chula da palavra, e mesmo sabendo que existe outras definições até mesmo em dicionários, não a introduziu no texto.
      Falo isso porque aqui no sul usamos muito a palavra broxar de modo informal, quando estamos muito empolgado de fazer algo e alguém vem e joga um balde de água fria ” você fez eu broxar”. O Brasil é gigante e nossa cultura é diversificada, então, seja honesto quando for compartilhar conhecimento.

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      1. Prezado, como você poderá constatar na aba “Sobre Este Blog”, no meu blog eu me permito expressar opiniões pessoais e tratar de assuntos diversos, ou seja, não é um blog educativo ou neutro. Portanto, além de compartilhar conhecimento, compartilho minhas ideias e opiniões e assim vou continuar procedendo, goste você ou não.
        Sobre os significados de “broxar”, ao contrário do que você afirma, eu desconhecia esse usado no Sul do Brasil; tampouco encontrei essa acepção nos dicionários que consultei. De todo modo, quando vocês sulistas usam “broxar” no sentido de perder o entusiasmo, estão indiretamente fazendo uma metáfora da impotência sexual: perder o entusiasmo = perder o tesão, perder a ereção.
        Por último, quando você diz “seja honesto”, está pressupondo que eu não estou sendo honesto nas minhas postagens. É uma acusação leviana, porque sem fundamento, e muito grave. Espero que você se retrate dela, caso contrário serei obrigado a bloqueá-lo.

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  1. Oi, Aldo!

    O Michaelis registra como uma das acepções de ‘brocha’ com ch:

    “8 PINT Espécie de pincel grande, de qualidade inferior, com cabo geralmente de plástico e cerdas sintéticas, usado para caiar ou fazer outros tipos de pintura ou revestimento que não exigem muito apuro.”.

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    1. Obrigado pela informação. Meu Michaelis, que é de 1998 (velho, hein!), não registra essa acepção, apenas a de “prego”. E o VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – também não. Então eu me baseei nas fontes de que disponho.

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  2. Excelente observação.

    É possível que a imprensa se esteja baseando no Houaiss, que considera as formas com ‘x’ como “grafia a evitar” e a substituir por ‘ch’. O Aulete faz a mesma recomendação.

    Já o Dicionário da Editora Porto, o Priberam e o MeuDicionário.org trazem as duas palavras, com ‘x’ e com ‘ch’, cada uma com seu significado.

    Durma-se com um barulho desses.

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  3. Estava esperando seu post sobre essa palavra. Quero dizer que me senti ouvida mesmo sem ter entrado em contato. Muito obrigada sempre por tantos esclarecimentos. Adoro seus emails. Abraços.

    [image: width=] https://www.avast.com/sig-email?utm_medium=email&utm_source=link&utm_campaign=sig-email&utm_content=webmail Não contém vírus.www.avast.com https://www.avast.com/sig-email?utm_medium=email&utm_source=link&utm_campaign=sig-email&utm_content=webmail <#DAB4FAD8-2DD7-40BB-A1B8-4E2AA1F9FDF2>

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  4. Boa noite caro Aldo! Peço-lhe desculpas na demora da resposta.
    Primeiramente tenho total compreensão que o blog é seu, e você pode postar as opiniões, pensamentos e idéias que melhor lhe apraz, porém, no momento em que você permite um campo de respostas livre para diferentes indivíduos, você está permitindo o direito a controvérsia. No momento em que você filtra e censura opiniões que contrariam a sua bolha de idéias, você demonstra ressentimento e arrogância.
    Em nenhum momento quis dizer que você é desonesto em suas postagens, quando falei em ser desonesto foi nesta postagem, pois ao ler suas respostas, constatei que você possui um Michaelis, justamente um dos dicionários que define de forma coloquial brocha como “Diz-se de ou indivíduo que se mostra sem ânimo, sem vontade de agir; desanimado, desatentado, frouxo.” Então, no contexto do discurso do presidente, foi nesse sentido e não no sentido chulo com conotação sexual como você sugere.
    Veja os cariocas quando usam de forma chula a palavra “viado” para se referir a alguém e nem sempre de forma depreciativa, ou os paulistas “cuzão” ou até mesmos os sulistas da periferia que usam o “feio”. Outro exemplo são os nordestinos quando falam “cabra macho” eles não estão exaltando sua masculinidade e sim sua coragem. Como conclusão quero dizer que etimologicamente a palavra brocha não tem por definição a impotência sexual.
    Quero deixar claro aqui que minha intenção não é ter desavença com você, nem ser grosseiro ou deselegante, se assim você entender. Minha intenção foi apenas debater

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    1. Prezado Jonathan, de fato possuo uma edição do Michaelis, que não é a atual e talvez por isso não registre a acepção de “brocha/brochar” nem de “broxa/broxar” que você reproduziu. Portanto, se existe essa acepção dicionarizada, eu até agora desconhecia. De todo modo, a acepção mais comum e conhecida em todo o Brasil desse termo é a que se refere ao ato sexual. Desse modo, o “imbroxável” do presidente Bolsonaro soou mal à maior parte dos brasileiros – com exceção, é claro, dos bolsonaristas, que adoram as estrepolias verbais do presidente. O fato é que, qualquer que seja a acepção da palavra, a autoexaltação de Bolsonaro numa cerimônia em que o protagonismo deveriam ser os 200 anos da Independência pegou muito mal.

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